Porque sinto atração por pessoas do mesmo sexo?

A atração pelo mesmo sexo é definida como uma orientação de caráter afetivo e/ou sexual, predominante ou exclusiva, de uma pessoa relativamente a outra pessoa do mesmo sexo. Esta atração – que apenas em raros casos é voluntária – deve ser distinguida do comportamento – por norma, voluntário – que essa atração pode suscitar, tais como atos sexuais com pessoas do mesmo sexo. Contudo, nem sempre essa atração conduz a um ato sexual com outra pessoa do mesmo sexo, podendo refletir-se, por exemplo, num comportamento dependente ou infantil, numa necessidade constante de atenção e afeto, numa excessiva fantasia sexual, na masturbação compulsiva, na atração por adolescentes, na dependência de pornografia e em comportamentos narcisistas.

Embora sejam comuns expressões como “pessoas homossexuais” ou “identidade homossexual”, a atração pelo mesmo sexo ou os atos que possam decorrer da mesma não constituem, por si só, condições estruturais de uma pessoa, pelo que não é correto definir alguém apenas com base numa tendência sua ou num comportamento suscitado por essa tendência. Assim, em vez de qualificarmos alguém como “homossexual”, é preferível referirmo-nos a uma “pessoa com atração pelo mesmo sexo”. Convém também recordar que existem apenas duas identidades sexuais propriamente ditas – homem e mulher – determinadas pelo seu sexo biológico.

Não obstante os vários trabalhos de investigação que tentaram identificar uma origem biológica, genética ou hormonal para a atração pelo mesmo sexo, nenhum foi conclusivo. Vários autores, entre os quais Jokin de Irala, afirmam que estamos provavelmente perante um fenómeno com uma causa claramente multidimensional. A atração pelo mesmo sexo é, assim, o resultado da interação entre elementos inatos (tais como um determinado temperamento), influências externas (nomeadamente, familiares e sociais) e estilos de vida e comportamentos livremente escolhidos. Os referidos elementos inatos – como, por exemplo, um comportamento sensível – estão, contudo, longe de poderem ser considerados como automaticamente conducentes a uma atração pelo mesmo sexo; nem tão pouco devem ser entendidos como defeitos ou problemas, podendo inclusivamente revelar-se vantajosos no contexto do relacionamento social.

Nesta linha, a atração pelo mesmo sexo é o resultado de um desenvolvimento inadequado da identidade sexual humana, que depende de aspetos biológicos, (decorrentes das determinantes específicas dos dois sexos biológicos existentes), psicológicos, culturais e sociais. No entender de peritos como Socarides, a atração pelo mesmo sexo deve ser entendida como um transtorno do desenvolvimento psicossexual. Autores como Gerard van Aardweg afirmam existir frequentemente na pessoa com atração pelo mesmo sexo algumas desordens do foro psicológico e, na mesma linha, especialistas como Richard Cohen indicam que, na maioria dos casos, essa atração surge como reação perante um sentimento doloroso, que afeta a autoestima da pessoa. Por conseguinte, não sendo uma doença, é um sintoma de uma desordem psicológica, decorrente de uma ferida emocional que, uma vez identificada, poderá eventualmente ser superada, fazendo diminuir ou mesmo eliminar a referida atração.

Entre as feridas emocionais mais comuns, que estão na base do desenvolvimento de uma atração pelo mesmo sexo, salientam-se aquelas decorrentes de um progenitor do mesmo sexo (o pai no caso do rapaz; a mãe no caso da rapariga) emocionalmente distante, insensível ou pouco afirmativo. A desconfiança em relação ao sexo oposto é outra causa significativa da atração pelo mesmo sexo e resulta geralmente de um progenitor do sexo oposto excessivamente controlador, emocionalmente distante, manipulador, ausente ou dependente.

Quando a necessidade de afeto e reconhecimento do progenitor não é preenchida, desenvolve-se um vazio interior. Para preencher esse vazio, muitos rapazes e jovens adultos buscam conforto na proximidade física com outros homens. A dificuldade em receber carinho e aprovação da sua mãe pode resultar numa tristeza terrível para uma rapariga e levá-la a tentar preencher o vazio desse amor materno e reconfortante através de uma ligação afetiva e/ou sexual com outra rapariga.

Alguns autores, como Richard Fitzgibbons, consideram que as dificuldades no relacionamento com colegas do mesmo sexo na infância e na adolescência têm um impacto superior ao das dificuldades relacionais com os pais no desenvolvimento de uma atração pelo mesmo sexo e de uma identidade sexual própria negativa. No caso dos rapazes, é comum que a rejeição pelos seus pares, que inclui frequentemente humilhações e abusos verbais e físicos, seja suscitada por uma limitada aptidão para o desporto, para a qual pode contribuir uma fraca coordenação psicomotora.

Outro factor comuma pessoas com atração pelo mesmo sexoéa violação ou abuso sexualde que foram vítimas e a sensação de culpa que frequentemente lhe associam, que tem um efeito negativo na respetiva autoestima.

Um fator importante da atração pelo mesmo sexo é o medo da vulnerabilidade relativamente a relações com o sexo oposto. Esta incapacidade de se sentir seguro amando alguém do sexo oposto decorre, na maior parte das vezes, de experiências traumáticas no interior da família. Nos homens, pode ser consequência de uma mãe excessivamente controladora, dependente, revoltada, crítica, insensível, narcisista, desconfiada e/ou doente. Nas mulheres, pode decorrer de um pai agressivo, crítico, distante, frio em relação à mulher, abusivo, rude, egoísta, adicto ou pouco afetuoso. O sentimento de abandono pelo pai, nomeadamente na sequência de um divórcio, suscita em várias mulheres um medo relativamente aos homens, que pode levar a que, durante algum tempo, só se sintam confortáveis relacionando-se com outras mulheres.

A desconfiança e o medo do compromisso, que são frequentes em pessoas com atração pelo mesmo sexo, podem desenvolver-se como efeito da vivência numa família com frequentes conflitos entre os progenitores. Uma vez que a relação entre os pais é para uma criança o modelo de um relacionamento amoroso, um casamento marcado pela dor e pela turbulência pode levar ao medo do filho ou da filha de se tornar vulnerável em relação ao sexo oposto.

Um marido emocionalmente distante pode levar a mulher a tentar superar a sua solidão por uma dependência excessiva do seu filho e a discutir com este preocupações que deveriam ser partilhadas preferencialmente com o seu pai. Esta situação, em particular na sequência de um divórcio, pode conduzir o rapaz a assumir involuntariamente o papel de “homem da casa” e a sentir-se excessivamente responsável pela sua mãe. Isto pode originar nele uma visão do amor feminino como algo penoso e conduzir a um medo inconsciente da intimidade com mulheres.

Os sentimentos de rejeição pelos pares suscitam um sentimento de desadequação e desconforto relativamente ao próprio sexo, com efeitos nefastos no estabelecimento de uma identidade sexual positiva e, consequentemente, na auto-estima, podendo levar a uma aversão pelo próprio corpo e género, a tendências transformistas ou mesmo a uma vontade de mudança de sexo. A situação é mais grave no caso de violações e abusos sexuais, cuja vítima pode desenvolver uma confusão relativamente à sua identidade sexual, através de uma raiva contra si própria e uma falsa ideia de que houve algo no seu comportamento que suscitou o abuso.

A rejeição pelos colegas pode levar alguns rapazes a uma aversão do seu corpo, que encaram como fraco, não atraente e não masculino. Os conflitos básicos comuns a uma baixa auto-estima são manifestados de vários modos em atracões pelo mesmo sexo, incluindo uma atração obsessiva com corpos atléticos e musculosos, fantasias em relação a ter um outro corpo, necessidade de expressar comportamentos agressivos e um sentido profundo de não ser digno de ser amado, que pode levar a comportamentos sexuais sadomasoquistas e auto-destrutivos.

Em termos psicológicos, a atração pelo mesmo sexo pode ser suscitada por um grande número de feridas emocionais e conflitos internos ocorridos na infância, adolescência e vida adulta.

Ao longo da vida, em particular na infância, colecionamos feridas emocionais, decorrentes de desilusões com pais, irmãos e colegas. A dor que é negada na ocasião pode emergir, disfarçada de atração pelo mesmo sexo, no início da adolescência. Durante períodos de tensão, os conflitos interiores são ativados e, numa tentativa de buscar alívio ou escapar a essa dor emocional inconsciente, podem ocorrer atrações pelo mesmo sexo e correspondents atos sexuais.

A necessidade de aceitação por pessoas do mesmo sexo é essencial para o desenvolvimento de uma identidade sexual positiva e antecede a fase da adolescência. Se a auto-aceitação através da afirmação pelos colegas não for atingida, raramente um rapaz se sentirá atraído por raparigas.

Quando a atração pelo mesmo sexo emerge na vida adulta, geralmente ocorreu um trauma associado inconscientemente com conflitos não resolvidos na infância ou na adolescência. Alguns adultos que se sentem sós e frustrados por não terem encontrado a pessoa certa para casar podem refugiar-se em relações com pessoas do mesmo sexo numa tentativa de buscar alívio da sua solidão. Pessoas casadas podem envolver-se com pessoas do mesmo sexo devido a situações de stress e solidão no seu casamento. De igual modo, a tristeza e a solidão que surgem com o fim de um casamento ou uma relação de compromisso mais sério podem resultar numa atração pelo mesmo sexo devido ao medo dessas pessoas de ficarem vulneráveis a alguém do sexo oposto.

Numa mulher as feridas emocionais mais comuns que motivam um atração pelo mesmo sexo são a desconfiança relativamente ao amor masculino, originada por traumas associados ao pai ou outros homens, e o sentimento de falta de amor e afirmação por parte da mãe. Em claro contraste com os homens, a rejeição pelas colegas na infância e na adolescência é raramente encarada pelas mulheres como sendo um fator significativo da sua atração pelo mesmo sexo.

No caso dos rapazes, alguns autores (como Richard Fitzgibbons) consideram que dificuldades no relacionamento com colegas do mesmo sexo têm um impacto superior ao das dificuldades relacionais com os pais no desenvolvimento da atração pelo mesmo sexo. A fraca identidade masculina de um rapaz, resultante da repetida rejeição pelos colegas, pode ter na base uma deficiente coordenação psicomotora e uma consequente aptidão limitada para atividades físicas e desportivas.

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